O surgimento de mitos e crenças no contexto do aleitamento materno

Com o descobrimento, os portugueses trazem consigo o hábito do desmame, enquanto o aleitamento materno entre os índios tupinambás era amplamente difundido, tendo seu período mínimo de 18 meses. Naquela época, a amamentação para as mulheres europeias burguesas não era considerada uma prática digna de sua classe social. A partir do século XVIII, na Europa, e do século XIX, no Brasil, inicia-se uma revolução na forma de visualizar o papel da mãe e sua importância. Diversas publicações da época traziam recomendações às mães para que cuidassem e amamentassem pessoalmente seus filhos, surgindo assim a assertiva do instinto materno, do amor incondicional e espontâneo da mãe para com seu filho. É importante salientar que essas afirmativas não são consideradas mitos ou crenças propriamente ditas, mas sim concepções que podem influenciar negativamente a mulher-mãe-nutriz durante o ato de amamentar devido à pressão exercida sobre a mulher, além da responsabilização e da culpabilização dela por essa prática. Nessa época, a amamentação passou a ser imposta à nutriz, com o objetivo de solucionar o problema da elevada taxa de mortalidade infantil da época. Baseada nesse contexto, é criada a representação de que a lactação é um dever da nutriz – surge então o mito “mãe boa é a que amamenta”. No final do século XIX, como o conhecimento científico ainda não respondia a questões referentes à amamentação, os higienistas começam a formular alternativas para responder ao seguinte paradigma biológico: por que algumas mães não conseguem amamentar seus filhos, se a lactação é um ato natural e instintivo do ser humano? Então eis que surge um “modelo auxiliar” pautado na dimensão individual das mulheres para explicar o insucesso no aleitamento materno: a “síndrome do leite fraco”. A figura do leite fraco consolidou-se socialmente, sendo um valor cultural aceito e repassado entre várias gerações. Como se pode observar, os mitos e as crenças relacionados à lactação fazem parte do nosso cotidiano há muitos séculos. Eles constroem o significado do ato de aleitar para a mulher por meio da herança sociocultural adquirida através da vivência dessa mulher em sociedade – transmissão de valores por pessoas próximas ou mesmo pela observação de mulheres que estão passando por essa mesma situação.

 

Referências:

  • Badinter E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1985.
  • Almeida JAG. Amamentação: um híbrido naturezacultura. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1999
  • Silva IA. Amamentar: uma questão de assumir riscos ou garantir benefícios. São Paulo: Robe; 1997.
  • Souza LMBM, Almeida JAG. História da alimentação do lactente no Brasil: do leite fraco à biologia da excepcionalidade. Rio de Janeiro: Revinter; 2005.

 

Bruna Grazif
[email protected]

Enfermeira, consultora em Aleitamento Materno e Laserterapeuta. Empreendedora e mamãe do bebê genial, Miguel. Nasci em Minas Gerais, me formei em Belo Horizonte, mas foi em São Paulo, capital, que comecei a trilhar minha história e decidi aprofundar meus conhecimentos sobre Aleitamento Materno. Logo após a gestação do meu bebê, comecei minha trajetória de trabalho empreendedor, o que me possibilitou evoluir meus conhecimentos. Meu trabalho é reconhecido a cada dia pelo atendimento dedicado, próximo e humano que ofereço. Sou Coautora do Livro "Segunda Infância Volume 2". Não trabalho, cumpro uma missão. Um grande beijo e conte comigo!

Sem Comentários

Postar Um Comentário